sábado, 7 de setembro de 2013

Ser Viúva


Esta é uma "vocação" pela qual nunca nenhuma mulher optou.
Ao sair da igreja com a alma em festa e a mão poisada no braço do companheiro que escolheu para trilhar uma estrada a dois, pensa que será para sempre. Nada poderá interromper este sonho de felicidade. Poderá acontecer a outras, mas não a ela! Juraria que ele é imortal... e depois tão saudável.
Afinal a sua vocação foi sempre o caminho do matrimónio. Esta sim era, e é, uma vocação, agora a viuvez? Nunca ouvira tal, mas há quem lhe chame assim... E há movimentos a lembrar este estado que ela quer esquecer. E serão bem vindos se não falarem nesta "vocação" como se fosse um estigma ou uma maldição. São umas coitadinhas! São precisos grupo mistos que apoiem estas mulheres que ficaram sós mas que continuam a ter vocação de esposas. "Não separe o homem aquilo que Deus uniu" (Mt. 19,6). Eles partiram, mas estão apenas ausentes, assim lhes diz a sua fé. E estas mulheres continuam a ser mulheres, mães, profissionais e esposas.

 
Mas a sociedade não entende assim e marginaliza a mulher viúva. Desde o Antigo Testamento, embora Jesus, o Mestre, e os seus apóstolos tenham enaltecido sempre esta figura quase patética (Lc. 7,13; Mc. 12,42-44; I Tim. 5/3,5).
Muitas ficam totalmente sós, desprotegidas e abandonadas, sem apoio social ou económico. Algumas até sem um único ente familiar. É evidente que, durante séculos e séculos, esta situação passou a ser vista de uma maneira mais positiva. Mas não se animem os otimistas, nem tudo foi relevado.
No Antigo Testamento a mulher viúva era conotada como rasteiro (Zac. 7,10), em suma, uma deserdada da sorte (Lev. 22,13).
Ainda no Antigo Testamento a mulher viúva tinha três hipóteses de caminho a seguir. Podia voltar a casar se tivesse um bom dote; podia trabalhar para ganhar o seu sustento; ou podia voltar para a casa dos pais.


Hoje, com a emancipação da mulher, e o seu novo lugar conquistado na sociedade é quase sempre a segunda hipótese a mais seguida. Mas, a nível de Estado, e não só, a viúva continua como antigamente, desprotegida.
A pensão de viuvez é muito menos de metade do vencimento base do seu cônjuge. Havendo filhos menores a estudar de que modo pode ela fazer face a uma situação em que se encontra já penalizada emocionalmente?
E a nível da Igreja, do espírito cristão, como são acolhidas as mulheres de "vocação" não escolhida e muito menos compreendida e apoiada?
É um estudo feito por uma mulher que ficou só, que é posto aqui como desafio a toda a sociedade, ao Estado e à Igreja.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Férias

O mar tinha duas tonalidades – tal como a vida! Uma, de um azul cinzento carregado e outra num verde luminoso como a esperança. As ondas bordadas de branco alteavam-se numa força vitalizadora para depois se espraiarem na areia doirada, preguiçosa e sonhadoramente.


Sempre gostei de contemplar este mar que me diz muito. Fala-me de coisas que eu até já havia esquecido e a sua cadência lembra-me que, a toda a hora é preciso recomeçar...
Mas estou de férias! Será que até em férias é preciso recomeçar? Claro, como o mar. As horas encadeiam-se e desfazem-se, para logo se formar a seguinte – como as ondas do mar. O ciclo da vida não pára só porque estamos de férias e na vida, nada se perde, como as ondas do mar... Formam-se as ondas, desfazem-se as ondas mas a água permanece sempre a mesma, anos vêem, anos vão, mas a vida que se viveu não se perde, nem se some – fica em nós.


As férias passarão mas virão outras... cadenciadas como o mar. E tantas recordações que ficaram. Horas felizes, experiências, lições, beijos trocados e sonhos, tantos sonhos arquitectados. Seja como for, é vida vivida que faz parte de mim própria.
É por isso que gosto do mar. Compromete-me a estar comigo própria e em cada salpico de água, mesmo na crista da onda, lá vêem as recordações todas, as horas feitas e desfeitas, as descobertas, os fracassos e as ilusões.



É tempo de pensar, tomar decisões... para recomeçar! De novo, como as ondas do mar, num ciclo azul cinzento das horas difíceis e noutro, verde esperança das horas alegres e partilhadas.
Férias que se sucedem – vida que permanece... como as ondas do mar.

terça-feira, 28 de maio de 2013

O Meu Jardim


Se há alguns anos atrás me dissessem que jardinar seria uma das minhas paixões, não acreditaria! Ainda bem que mudamos. É no meu jardim que eu reúno momentos tão dispersos da minha vida. Gosto dos apelos no seu silêncio. Enquanto corto a sebe a minha alma está aberta a todas as emoções.

Está um dia de sol aberto, maravilhoso. Todos se queixam: está calor! Eu respiro feliz: que delícia! Gosto do sol a morder-me na pele. As cores espalhadas pelo verde extasiam-me. Os aromas estonteiam-me e trazem-me recordações. A chilreada de centenas de passarinhos, que este ano invadiram todo o espaço exterior, é delícia para os meus ouvidos. Melhor que as partituras dos mais famosos, pelo menos mais natural.
Tesourada daqui, tesourada dali e os pensamentos são como os ventos, chegam à hora menos pensada. Como fugir deles? Não sei como fechá-los… Há um perfume de rosas (postas por ti) que reverdece as lembranças. Nesse dia tinhas aparado toda a sebe do jardim, as heras dos muros do quintal e do pátio. Foi um trabalho exaustivo, parecia-te que o mundo acabaria nesse dia e era preciso deixar tudo em ordem. Não acabou mas aproximava-se a curva da estrada. Atrás de ti ia juntando todos os ramos para ser depois mais fácil apanhá-los. Do fundo do quintal disseste-me: “Belo trabalho, miúda, belo trabalho”.




À noite, um vento gélido varreu as estrelas do céu e entrou-nos pela casa dentro. Começava a tua via-sacra. E eu, tal como Maria, acompanhava-te numa angústia, sem saber o que fazer. Mais uma vez tive a noção que a vida é a sala de espera para a eternidade. Escutara o teu canto de cisne, assistira ao teu desafio redobrado à volta da sebe, como andorinha estonteada à procura de fazer o seu ninho… Tudo eram sinais de esperança! No entanto, o teu passo acertava-se já com outros passos de um outro caminho. Partiste daí a um mês. Nem mais. Nem menos. Sempre foste rigoroso em tudo e por último não podias falhar.
É no jardim que eu sinto mais a tua presença e talvez por isso goste tanto dele e o cuide com tanto amor. Mas não há só lágrimas por cima das tuas rosas… Oiço rumores de beijos, risadas cúmplices de quem, apesar dos anos, ainda sabia namorar. A alegria de saber que no meu coração, e no teu, existia um lugar especial para nós dois.
Hoje, sem estares comigo, estás presente. Vejo-te nas flores que me rodeiam. A distância? Ela não consegue destruir aquele fio invisível que nos prende. Continuas ali, no nosso jardim… Apenas agora, quem poda a sebe sou eu.
De um lugar para onde todos nos encaminhamos, vais fiscalizando o meu trabalho e sinto no coração pequenas mensagens, como se, de facto, o nosso diálogo não tivesse ainda terminado. E o coração não me engana. Não sei dimensioná-lo, não sei descrevê-lo… mas esse lugar maravilhoso existe mesmo.




Gosto do meu jardim: nele colho sorrisos com que enfeito os meus lábios, recolho gotas de beijos e conheço novamente o gosto da felicidade. Leio e releio os livros que mais gosto. Estudo, pesquiso e, principalmente, reflicto… A Vida! Mas há mais vida? Então não é o passado todo e este presente? Não. Falta o amanhã. Nem que seja apenas um dia, mas há-de ser feliz, pleno e sem lamúrias.
Um dia, uma amiga que veio passar uns dias comigo disse-me: “Quem tem um jardim como o teu não tem o direito de estar triste”. E porque haveria eu de estar?

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Bom Dia Esperança


Não sei se alguma vez já vos aconteceu, num dado momento da vossa estrada, encontrardes uma encruzilhada com várias direcções e sentirem o desânimo cair sobre vós. 
E agora, por onde sigo? 
Os projectos que trazíamos à partida parecem não encontrar eco em ninguém. Aquela nostalgia do “ontem” que trago sempre dentro de mim e que me fez pensar neste caminho à procura de amigos, julgo que já não existe nos outros, dissipou-se com o tempo. 
A saudade não encontra espaço e o silêncio passa por tantas recordações que pus à disposição de todos, numa disponibilidade de coração aberto. 
Será que a amizade, o tempo para os amigos agoniza impiedosamente? 
Os ideais foram desmantelados, murcharam pelo sol forte de uma vida difícil e já não há possibilidade daquela unidade que era bonita de se ver e, principalmente, de se sentir. O hoje, com todas as suas vicissitudes de atropelamentos, correrias loucas de sobrevivência, desencontros, tempos sem horas, amarguras, abafou a alegria e o gosto de viver de antigamente? 
Será que já não vos conheço, amigos de outros tempos? Já não sereis os mesmos? 


Tudo isto me fez pensar e parei para me organizar. Terei também eu mudado? Perdido a fé nos outros, na vida e em mim? 
No barco da vida quem deita fora a fé, deita também fora a esperança. Costumo ser optimista mas reconheço que marquei encontro com o desânimo e hoje estou como o tempo, enfarruscado, triste e sem brilho! A moleza tomou conta de mim… mas garanto-vos que ainda não é a capitulação. A esperança há-de voltar e levar-me mais longe ainda. 
A tarefa é grande, penosa e sacrificada. Não pelo trabalho em si, mas pelas respostas que não chegam. Mas este blogue continua a ser um desafio, uma luta e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade. 
Abri os olhos fechados por algum cansaço, limpei a face por onde escorriam as lágrimas e pus-me de pé! Caía a noite e ouvi rumores de vozes e passos cansados de gente desanimada, cansada, perdida talvez em encruzilhadas, como eu… Olhei a mochila caída a meus pés, tantos sonhos a sair de dentro dela, notas musicais de um outro tempo, de outro céu e de outro mar. A esperança sobrevive sempre que um adulto chora, disse alguém. 
A noite já vai longa mas vem aí a manhã que fará cantar de novo o meu coração. Quero abrir de novo as janelas da vida e saudar: bom dia esperança! 
Quem caminha espera e quem espera caminha. Jamais foi proibido agarrarmo-nos a um sonho para seguirmos viagem. O sonho impulsiona-nos para a vida. Amanhã, quero sorrir e sonhar, sonhar sempre. E se eles se desfolharem silenciosamente, ao menos ficarei com a esperança. Com essa flor que quero trazer sempre nos cabelos a lembrar-me que resistir é viver e desistir é morrer; farei caminho ao encontro dos outros, da alegria e da vida. As noites servem para isto: para encontrarmos, por entre as estrelas, o nosso rumo.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Esperança: É o Caminho


Do fundo do poço, ainda vejo estrelas a brilhar, mesmo atravessando túneis, pressinto a luz do outro lado. Mesmo no abismo, fico à escuta. E ouço passos. E onde há passos, há vida… “Penetrar no coração do mundo - escreve Lauro Dick - exige caminhar com ternura nos pés: a dor é muita e, quando menos se espera, abrimos a ferida que levava séculos de Medicina”. As estruturas do erro desmoronam, quando os engenheiros do Bem arregaçam as mangas e se unem num batalhão de entreajuda.
O joio vai definhando, quando os obreiros da Paz e da Justiça plantam searas nos campos do mundo, nos corações.
Há um despertar de vivências comunitárias, que deixa transparecer auroras. Encarar o futuro com esperança, ainda é o melhor caminho. Quantos anos tens? 15, 30, 60, 75, 80? Escuta bem: a tua vida vem de muito longe. Tem mais de dois mil anos. Tem a idade de Abraão. À sua frente, não há talvez qualquer certeza. Nenhuma garantia. Apenas uma escolha, uma intenção, uma promessa, um ideal. Uma esperança. Um aceno vigoroso. Só isso, nada mais. Deus chamou o patriarca e Abraão respondeu. O seu destino era incerto, mas partiu, deixando tudo: a sua casa, a sua terra, os seus amigos, o seu povo. Partiu deixando tudo para trás. Mesmo tudo? Não!   

Na sua Bagagem
Levava o essencial:
A Fé, a Esperança
Imensa coragem
E um grande ideal.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Dor é Fértil



A dor coloca-nos em contacto com a vida. Aproxima-nos de milhões de irmãos, cuja vida é continuamente temperada de dor.
Estive junto de um doente e fiquei impressionado com as suas atitudes e desejo de viver.
A vida é envolvente e dinâmica e muitas vezes só a valorizamos quando somos postos fora de circulação.
Como faz bem uma visita aos doentes, como nos torna mais humildes e mais compreensivos. Quem sofre precisa de mais amor que a pessoa sadia.
A pessoa feliz avança com coragem. Desde que a circunde a alegria, não precisa de acompanhantes. A quem está triste é que devemos dirigir a nossa palavra, reverenciando a sua dor, não sendo indiferentes, mas solícitos. Porque não encostar o ombro à cruz que o nosso irmão carrega, se amanhã a nossa pode ser tão pesada como a dele hoje?
Cantemos para os tristes um canto de alegria. Enchamos de esperança os seus ouvidos, embora saibamos que a realidade é sempre um dado estritamente pessoal e intransferível. Façamos cair por sobre o coração entristecido as sementes da alegria. Poderão proporcionar pelo menos instantes de optimismo, de esperança e bem-estar.


A vida verdadeira não está nos que soltam gargalhadas. Está nos que sofrem. Prova disso é que a felicidade é fugaz e a tristeza quase constante. Prova disso é que aprendemos, crescemos e nos aperfeiçoamos quando sofremos e lutamos; e nunca isso dá nos festins.
Aliás, a luta é o símbolo da vida. «Viver é lutar». Sem a luta não amassamos o pão de cada dia. A vitória e a superação pertencem aos que lutam.
Não falamos de grandes conquistas, mas de pequenas vitórias diárias, que não recebem o aplauso do público mas apenas da nossa consciência, que nos permitem andar de cabeça erguida, porque ficamos mais humanos.
Não importa que sejam coisas pequenas. Vencer é sempre grande coisa.
«Lindo», diz Dom Quixote, «é não ter de agradecer, humilhado, o pão de cada dia».
Bom é conquistá-lo com esforço e dignidade.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Amar a Vida




A vida é uma realidade maravilhosa. Mesmo a vida dos microvegetais e das plantas. Mais ainda a vida animal. Quanto mais elevada é a espécie, mais lembra o homem. A nossa atitude para com os animais é reflexo do nosso amor pelo homem. Não devemos matá-los ou impor-lhes fadigas e sofrimentos sem razão suficiente. Eles não são gente, por isso o seu valor não é como o do homem. Podem ser sacrificados por uma finalidade humana, mas sempre com respeito e o mínimo de dor. “O justo conhece até as necessidades do seu gado”, diz o livro dos Provérbios. O grande objectivo será sempre o rei da criação. O homem evita tudo a quilo que é nocivo à vida: frio, calor, humidade, ar viciado. Há remédios contra a maioria das doenças. A saúde é coisa preciosa. Os milagres de Cristo confirmam isto.
Um aspecto mais gracioso, alimentar-se razoavelmente, vestir-se de modo correcto, habitação humana condigna, higiene corporal, tudo isto faz parte da solicitude pela vida. O principal, porém, é sempre a vida. O próprio Cristo disse: “Não vale a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes?” (Mt. 6,25). O cuidado pela vida está profundamente enraizado no ser humano.




“Não matarás” não contém apenas a proibição de matar pessoas. Inclui toda a solicitude pela vida, desde a lesão causada por malícia até ao que acontece por imperícia, negligência ou imprudência. Inclui o combate contra tudo o que diminui a vitalidade: ar viciado, transgressões ao trânsito, mercadorias estragadas, trabalhar sem moderação ou não trabalhar o suficiente, o que mantém muita gente em nível inferior. Beber demais também é destrutivo, bem como apelar para os tóxicos. Parecem intensificar a vida, mas criam dependências desastrosas. Para os nervos, o grande perigo é o ruído. É que não existe protecção. O homem pode fechar os olhos, mas não pode tapar os ouvidos. Também há prejuízos causados pela palavra, pela calúnia, pela inveja e pelo descanso. Ficou verde de inveja, diz o povo. É cor oposta às faces sadias.
Ama a vida. Ela merece os maiores cuidados. É a grande obra de arte que Deus fez.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Dia do Pai





O meu Pai
Mora num ponto do infinito…
Partiu num dia de primavera
Disfarçado de andorinha.
Era o começo de uma tarde
E o sol beijava a boca da terra
Partiu sem um grito
Sabendo que a sua casa
Era num outro lugar…
Ficou a dor só minha
E aquele gosto de quem espera
E não sabe que é em vão
Cresce devagar a saudade
E conta-se o tempo sem retorno.
Pai, que é feito da promessa
Que mágoa alguma nos separaria?
Que é feito dos teus versos
No dia dos meus anos?
Que é feito dos sonhos que fizemos?
Plantámos tudo num tempo
Por onde o amor passou…




Sei que é outra vez tarde
Num campo que é teu desvelo
E entre asas e voos
Não sei se de uma andorinha
Escuto a voz do vento:
Filha, trouxe a semente
E tudo aqui floriu
Sou dono de um canteiro
Onde há estrelas
Versos e flores
Não estou distante
Chego ao amanhecer
E em cada tarde
Para que não tenhas medo
Da noite escura
E sem que possas saber
Velo o teu dormir
E parto de novo
Num leve esvoaçar!





sexta-feira, 1 de março de 2013

4ª Aniversário do ZAMBEZIANA


23 de Fevereiro de 2009 - 23 de Fevereiro de 2013


Não, não me esqueci do 4º aniversário do meu blogue… Do 1º passo com que, muito a medo, iniciei este caminho… Mas foi um fim-de-semana de muito trabalho, resultante dos “Sins” que ofereço, de coração aberto… esquecendo o tempo para mim! Ainda bem!
Estar ao serviço dos outros foi sempre um ideal de vida e quis vivê-lo com um fogo interior, cheia de muitos propósitos, de cantares felizes, onde cada estrela fosse um poema e as searas, um mar profundo onde encontrasse o infinito… Mas o tempo é cada vez mais diminuto.
Chego a acreditar que o dia já não tem 24 horas… À medida que caminho na vida, parece-me que me faltam horas… Será que o tempo correu depressa demais ou fui eu quem se atrasou?
Terei entendido que as horas são feitas de minutos, de segundos e que tudo tem de ser aproveitado para que não fique cá dentro a sensação de vazio?
O caminho é difícil mas, convosco, acredito que chegarei até aonde me propus chegar.
A minha Amizade por vós não tem limites, senão, deixaria de ser amor.
Agradeço-vos de coração a vossa presença assídua na minha “palhota”, a qual nem sempre consigo corresponder de igual modo… Talvez o tempo me tenha trazido o sabor do cansaço, sabor que não era de todo meu conhecido… Gostaria de continuar a ser valente, com imensa força e de aceitar a vida e a morte com serenidade, acreditando que, se hoje se está perdido… amanhã a esperança nascerá noutro lado qualquer…
Na planície não verei bem os cumes onde quero chegar… Há que subir… subir… custe o que custar…
Hoje, estou feliz com a vossa presença e carinho… Este aniversário não faria sentido sem vós… e todos os outros que se seguirem.
Deixo um beijo a cada um e a certeza do meu carinho.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

L I B E R D A D E




Liberdade é espaço,
É imensidão,
O livre correr da imaginação
Que nos oprime a mente!
É viver a vida plenamente
Sem peias,
Deixando vogar as ideias
Que nos libertam
Dos medos,
Das opressões,
Dos tiranos e dos mandões
Que nos apertam!
Liberdade é regeneração
Do passado ao presente,
É o fervor do sangue quente,
Correndo como cavalo à solta,
A centelha da revolta
Do homem novo,
O levantar do povo,
O renascer da mente.
Liberdade é o voo da ave
No céu limpo,
O levantar dos deuses
No Olimpo.
É o sorrir à esperança,
O sonhar
O livre brincar
De uma criança!


- Henrique Guerra

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Romaria

 O sol já ia alto quando a Ti Maria deu as últimas ordens à rapaziada.
Os cestos arrumadinhos a um canto, brilhavam em asseio e colorido. Quanta coisa boa levavam e que cheirinho apetitoso andava no ar…
- Eh, Manel, acorda homem que o rapazio já lá vai adiante junto à casa da Ti Zefa. De caminho chegamos atrasados…
A tia Maria, atarefada, punha tudo a toque de caixa. Lá adiante soam as concertinas e ouvem-se cantigas ao desafio. O calor aperta cada vez mais e o Manel, muito à surripiada vai deitando os beiços ao garrafão de vinho.
- Ó Joana, não vás tão depressa porque logo estás derreada e não há quem te ature…
Mas a gente nova quer lá saber dos conselhos dos velhos! É cantar, bailar e correr porque a tristeza não é com eles.
Ao longe, já se vêem os arcos do adro enfeitados com gosto e com arte. Estalam foguetes no ar e o coração da Joana bate mais depressa porque o Zé da Fonte já lhe prometeu ser seu par no primeiro vira, depois da Missa.
A Ti Maria mais o seu Manel dão uma volta pelas barracas a ver o movimento.

- Ai Manel que a gente vai para casa sem um tostão… - E os olhos admiram com sofreguidão aquela blusa de rendas, tão linda, igual à da mulher do regedor. Não que ela não quer ficar para trás e, às escondidas, a sua gorducha mão tira do saquito duas pesadas moedas.
- A alegria é bênção de Deus! – Dizia o prior do alto do seu púlpito… mas, quem o ouvia?
A Joana, à socapa, vai deitando umas olhadelas ao Zé, a Ti Maria sonha com a blusa que dirá bem com a saia preta e o Manel, ah esse, pensa com deleite no farnelzinho que ainda fumega lá fora…
O sol já se põe e a noite não tarda a chegar com o seu manto estrelado. Ainda há alegria e cantigas a jorro. A rapaziada não arredou pé e o vinho corre em quantidade.
A Ti Maria pensa que já não está para estas coisas… se não fosse a sua Joana, já há muito estaria de abalada.
- Ó Manel, falaste ao Ti Joaquim na compra dos borregos? Olha que é de aproveitar a maré antes que ele arrefeça.
O Manel não responde e com um pé continua a marcar o compasso do vira.
O dianho da mulher que nem em dia de romaria deixa de pensar nos negócios!



Já quase não há ninguém e é a Ti Maria que, mais uma vez, dá ordens, agora ordens de regresso.
- Ó mulher mexe-te que não vá acontecer apanharmos a madrugada no caminho… O teu pai que te ajude. Que é das compras que fizemos na barraca da Cândida?
E à confusão das compras e das arrumações, junta-se o cansaço de todos tornando o regresso mais lento, apesar dos resmungos da Tia Maria.
- Ó Ti João, espere por nós que também vamos. O Manel já está lá na frente com o Francisco e a mula.
Ninguém fala porque o cansaço não os deixa à vontade. A Ti Maria vai fazendo contas do que gastou e fica aflita com o resultado. O Manel pensa que o caminho de regresso é muito mais longo… ou será ilusão sua?
A Joana suspira e pede a Deus que o seu Zé não a esqueça e a peça em casamento na próxima romaria.

(Escrito com 17 anos, sem conhecer Portugal e publicado no jornal juvenil "Mais Além" do qual fui fundadora)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Lição de Vida


Tiago gostava muito do seu avô e entendia, apesar da sua pouca idade, que ele já não tinha a mesma força de quando o levava até ao jardim e lhe empurrava o baloiço. Nessa altura Tiago gritava:
- Mais alto, avô, até ao céu… - E o avô fazia-lhe a vontade.


E quando jogavam à bola e o avô fazia de guarda-redes? Era um craque… Corria a baliza toda e não havia bola que entrasse.
O avô envelhecera rapidamente, pelo menos era o que parecia a Tiago e tinha pena quando via a sua mão tremer e ele deixar cair um pouco de sopa na toalha. A mãe e o pai ralhavam com ele:
- Veja o que está a fazer… É sempre a mesma coisa!
O avô calava-se e quase enfiava a cara dentro do prato da sopa. Tiago bem via como algumas lágrimas lhe caíam pela face. Às vezes fazia de propósito e também Tiago deixava cair sopa na mesa. Olhando para o avô, dizia-lhe:
- Vês avô, acontece a todos. - O avô entendia e passava-lhe a mão pela cabecita.
Mas mesmo assim as reprimendas dos pais não terminavam e quando as mãos trémulas do avó deixavam cair alguma coisa, lá vinham as censuras e as ameaças:
- Outra vez? Isto não pode continuar assim…Vai passar a comer na cozinha e numa malga.
O avô não foi capaz de melhorar a situação e a ameaça cumpriu-se!
Passou a comer sozinho na cozinha e numa malga de barro comprada para o efeito.
Tiago sentiu uma revolta imensa e teve vontade de seguir atrás do avô e ficar com ele a partilhar a refeição mas teve receio da atitude dos pais. Do lado onde se sentava para comer, via o avô sempre reclinado sobre a malga na tentativa de não sujar nem a mesa, nem o chão.
Tiago gritava-lhe:
- Avô, vejo-te daqui. – E atirava-lhe um beijo.
Um dia ouviram ruídos de cacos vindos da cozinha e a mãe foi ver o que passava. As mãos trémulas do avô tinham deixado cair a tigela de barro que se fez em mil pedaços, espalhando a comida toda pelo chão.
-Só faltava mais esta. Lá se foi a tigela e a comida aqui espalhada, numa chafurdice. Não há outro remédio vou comprar-lhe uma tigela de madeira, ao menos quando a deixar cair não se parte…


Quando lhe foi posta a primeira refeição na tigela de madeira, esta veio acompanhada com uma recomendação:
-Veja lá como se porta , já é tempo de se corrigir…
Tiago sentia-se ferver por dentro e um dia pegou num tronco de madeira com cerca de vinte centímetros e foi sentar-se ao lado do avô com uma pequena navalha e ia escavando o tronco com uma força que lhe dava a indignação.
O pai ao passar por ali casualmente, perguntou-lhe:
- Filho, que estás a fazer?
- Estou a fazer uma tigela de madeira para vos dar quando tiverdes a idade do avô.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Concurso Blogs do Ano 2012


Queridos Amigos,
 
Fui nomeada para o concurso Blogs do Ano 2012 nas categorias "Cultura" e "Outros". 
A vossa Amizade que me tem acompanhado sempre ao longo destes quase quatro anos, já é para mim o prémio mais que merecido. Mas, se me permitem esta ousadia, gostaria de pedir a vossa colaboração, neste caso o vosso voto. Se me julgarem merecedora, claro!
 
Foto: Queridos Amigos,
Fui nomeada  para o concurso Blogs do Ano 2012 nas categorias "Cultura" e "Outros". Para aqueles que conhecem o Blog Zambeziana (www.zambezianachuabo.blogspot.com) e que entendam que este merece o vosso voto, podem fazê-lo nos links abaixo. 
Pelo vosso carinho, o meu kanimambo.

http://aventar.eu/blogs-do-ano-2012/blogs-do-ano-2012-votacoes-1a-fase-24/

http://aventar.eu/blogs-do-ano-2012/blogs-do-ano-2012-votacoes-1a-fase-14/